Quando não se
está bem, existe vários estágios que a vida nos faz passar para que tudo um dia
volte ao seu lugar, ou para que tudo se renove de uma forma diferente e melhor.
E se estou aqui a escrever é por que algo dentro de mim começa a mudar, ou
melhorar.
O primeiro
estágio é a inquietude, a ânsia de mudar algo que talvez nem saibamos o que é. Algo
dentro ou fora de nós que não está de acordo com o intimo. É então quando
buscamos respostas, quando buscamos mudanças. E essa busca nem sempre nos leva
aos melhores lugares, mas mesmo estando errados, nos serve de amadurecimento.
Ao encontrar
alguma coisa que pensamos ser o que buscávamos, tem-se o segundo estágio. O que
nos cega, o que nos da a falsa sensação de que “agora sim, estamos bem”. Vive-se
intensamente, mesmo que por dentro, tudo que esse estágio nos propõe.
Assemelha-se ao estado mental de um drogado que por alguns momentos foge da
realidade e entra em êxtase. Mas logo que o efeito passa, voltamos ao estágio
inicial.
Voltamos e
percebemos que lá no inicio, quando vieram as perguntas, a inquietude e a
insatisfação, na verdade estava tudo certo em volta, o problema estava dentro e
por dentro é mais difícil mudar. Por dentro só se muda com o tempo, e com das
ilusões seguidas de desilusões.
Tudo isso é
necessário.
No terceiro
estagio estamos destruídos, esse é o mais demorado. A luz do sol parece bater
mais forte no rosto e o vento acaricia a face molhada de lágrimas. Sim, as
lágrimas, não há nada melhor para lavar a alma.
É nessa fase
de abertura de olhos que conseguimos enxergar quem estava o tempo todo ali do
teu lado, te ouvindo, te seguindo e lamentando tantos erros e ao mesmo tempo
vibrando pela tua evolução. Deus como, um oleiro, destrói o barro estragado,
gasto pelo tempo, arranhado e frágil pelas pancadas da viagem, e começa a
moldar, bem de vagar e com cuidado, um vaso novo, com outra forma e com outras
cores. Mais forte e mais belo.
Esse processo
é doloroso, é quando ainda em estado de choque se pode ver passar diante dos
teus olhos um filme com toda tua história. Momentos bons e ruins. E como dói
rever tanta coisa, como dói rever tantos erros e por vezes... Tanta maldade.
E numa
atitude desesperada, tudo que se quer é fechar os olhos e sair correndo e
tentar apagar tudo da mente e do coração... Impossível meus caros.
Impossível...
O melhor é
buscar forças e continuar ali a ver tudo com a maior riqueza de detalhes
possível. Só assim para não mais errar. Nesse processo de renovação, há de se
ter paciência, pois não é só dentro de ti que muita coisa mudou. Dentro dos
outros e das pessoas que se ama também muitas coisas mudaram. É como se
morresse e depois retornasse diferente.
E por ultimo,
no quarto estágio, tudo parece ter cores diferentes, o corpo parece mais leve e
o sorriso brota fácil no olhar. Não há medos nem barreiras intransponíveis.
Deus destruiu o vaso velho e fez um novo. E dentro dele colocou água limpa e
pura, cheia de vida e de nutrientes para a alma.
Há de se ter
paciência para esperar que todos se acostumem novamente com tua presença. Que
todos voltem a te enxergar de uma forma diferente e ao mesmo tempo com o mesmo
amor, carinho e respeito.
Há de se ter
paciência para reconquistar tudo que de fato era importante na tua vida e que
mesmo após toda dor, destruição e renascimento, continua importante e vital
para tua existência. Mesmo após a vitória, ainda existirá muita lágrima por que
o tempo é duro de mais conosco e nem sempre o sabemos respeitar, nem sempre
conseguimos deixá-lo passar diante dos nossos olhos sem poder fazer nada, sem
poder nos intrometer no seu trabalho delicado e ao mesmo tempo forte e
perfeito.
Mas ao fim de
tudo isso, ao fim das ultimas lágrimas e de toda reconquista da felicidade,
pode-se ouvir ao longe a música... é a festa da vitória, a festa da liberdade
que se tem, quando se deixa Deus agir, quando em fim nos rendemos às suas
vontades...
Por enquanto
só resta esperar... Deitar de vez em quando no colo do Pai, desabafar e chorar
até adormecer para depois acordar se sentindo um pouco melhor...